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domingo, 28 de junho de 2009

A busca da felicidade

Felicidade é truque. Um truque da natureza concebido ao longo de milhões de anos com uma só finalidade: enganar você. A lógica é a seguinte: quando fazemos algo que aumenta nossas chances de sobreviver ou de procriar, nos sentimos muito bem. Tão bem que vamos querer repetir a experiência muitas e muitas vezes. E essa nossa perseguição incessantes de coisas que nos deixam felizes acaba aumentando as chances de transmitirmos nossos genes. “As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo” escreveu o escritor e psicólogo americano Robert Wright, num artigo para a revista americana Time.
A busca pela felicidade é o combustível que move a humanidade é ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar dinheiro, fazer amigos, brigar, casar, superar, ter filhos e depois protegê-los. Ela nos convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais importante do mundo e nos dá disposição para lutar por ela. Mas tudo é ilusão. A cada vitória surge uma nova necessidade. Felicidade é uma cenoura pendurada numa vara de pescar amarrada no nosso corpo. Às vezes, com muito esforço, conseguimos dá uma mordidinha. Mas a cenoura continua lá adiante, apetitosa, nos empurrando para frente. Felicidade é um truque.
E temos levado esse truque muito a sério. Vivemos uma época em que ser feliz é uma obrigação às pessoas tristes são indesejadas, vistas como fracassadas completas. A doença do momento é a depressão. “A depressão é o mal de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço” afirma o escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua. Muitos de nós estamos fazendo força demais para demonstrar felicidade aos outros e sofrendo por dentro por causa disso. Felicidade está virando um peso: uma fonte terrível de ansiedade. Esse assunto sempre foi desprezado pelos cientistas. Mas, na última década um número cada vez maior deles, alguns influenciados pelas idéias de religiosidade e filósofos, tem se esforçado para decifrar os segredos da felicidade. A idéia é finalmente desmascarar esse truque da natureza. Entender o que nos torna mais ou menos felizes e qual é a forma ideal de lidar com a ansiedade que essa busca infinita causa.
A felicidade não é um fim em si, e sim uma conseqüência do jeito que você leva a vida. As pessoas que procuram receitas e respostas complicadas para ela acabam perdendo de vista os pequenos prazeres e alegrias. É o dia a dia de uma pessoa e a maneira como ela reage às situações mais banais que definem seu nível de felicidade. Ou para resumir tudo: um jeito garantido de ser feliz é se preocupando menos em ser feliz.
Superinteressante, São Paulo, abr. 2005

Família

Três meninos e duas meninas,
Sendo uma ainda de colo,
A cozinheira preta, a copeira mulata,
O papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! Mas a esperança verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.

Carlos Drummond de Andrade
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